A Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Um encadeamento de crises.
Ao terminar o
século XIX, quase todos os países viviam sob a supremacia européia. A expansão
imperialista, a superioridade industrial e o poderio financeiro deram à Europa
o controle mundial. Era o centro de decisão, e tudo o que ali se passava
repercutia no restante do mundo. Internamente, os países europeus gozavam de
tranqüilidade social e dos benefícios materiais propiciados pelos avanços
tecnológicos. Devido a essas condições, chamou-se Belle Époque (Bela Época) ao
período situado entre 1890 e 1914.
Mas o clima de
paz da Belle Époque era aparente. Havia muitos pontos de conflito entre os
países europeus. A França não aceitava a perda da Alsácia-Lorena, ocorrida em
1871, para a Alemanha. Confrontos militares entre franceses e alemães pela
posse de Marrocos (em 1905, 1911 e 1912) agravaram ainda mais a rivalidade
entre os dois países.
A Alemanha era
uma importante potência industrial. Superava os ingleses na produção de aço e
ferro, fabricava máquinas, armamentos, navios e automóveis de excelente
qualidade e sua indústria química não tinha rivais. Interessado em conquistar o
mercado consumidor do Império Turco (ou Otomano), o governo alemão planejava
construir a ferrovia Berlim-Bagdá, que daria acesso às populações orientais.
A Inglaterra
sentia-se ameaçada com o crescimento econômico da Alemanha. Além disso, o
imperador alemão não escondia suas pretensões expansionistas na Europa:
defendia a união de todos os povos de língua alemã e proclamava suas idéias em
favor da guerra.
O Império
Otomano, em decadência, enfrentava numerosos movimentos nacionalistas na região
dos Bálcãs. Outros países aproveitaram-se dessas guerras separatistas para
tomarem territórios. A Austra-Hungria anexou a Bósnia-Herzegovina ao seu
império. O pequeno reino da Sérvia planejou formar a “Grande Sérvia” e ocupar
os territórios austríacos e dos turcos. A Rússia desejava os estreitos de
Bósforo e Dardanelo, o que lhe daria uma saída para o mar Mediterrâneo.
O Império Russo
se proclamou protetor das minorias eslavas, como os tchecos, búlgaros,
macedônios e iugoslavos, apoiando seus movimentos separatistas. Essa política
provocou tensões com a Austria-Hungria, cujo império multinacional reunia
austríacos, alemães, húngaros, romenos, italianos e eslavos (entre eles, a
população da Bósnia).
A Grande Guerra.
As hostilidades
entre países europeus levaram à formação de blocos antagônicos. De um lado a
Alemanha, a Áustria-Hungria e Italiana, que formaram a Tríplice Aliança. De
outro, a Grã-Bretanha, a França e a Rússia, que formaram a Tríplice Entente.
Para se
proteger, ao mesmo tempo, superar e intimidar seus rivais, cada país tratou de
melhorar seu equipamento bélico. Aumentou-se a produção de fuzis, metralhadoras
e canhões alem de aperfeiçoarem as frotas, além do estímulo á invenção de novas
armas, como lança-chamas e o gás venenoso. O serviço militar tornou-se
obrigatório em quase todos os países europeus. As fronteiras foram
fortificadas. A Europa preparava-se para a guerra.
Francisco
Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, em visita diplomática a Sarajevo,
na Bósnia, foi assassinado junto com a esposa por um jovem sérvio (28/06/1914).
Acusando a Sérvia de favorecer o atentado, a Áustria-Hungria declarou-lhe guerra
um mês depois. Os pactos entre os países de cada bloco foram acionados. Em uma
semana, seis países estavam em guerra: Áustria-Hungria e Alemanha (a Itália não
os acompanhou na declaração de guerra) – as chamadas potências centrais –
contra Sérvia, Rússia, França e Inglaterra – os aliados. Começava a Primeira
Guerra Mundial.
Animados por um
nacionalismo chauvinista e xenófobo, milhares de jovens seguiram para os
combates. Desrespeitando a neutralidade da Bélgica, tropas alemãs invadiram o
país e chegaram ao norte da França. Ali permaneceram abrigados em trincheiras,
valas protegidas por arames farpados. Poucos quilômetros à frente, os soldados
franceses estavam também entrincheirados. Por três anos e meio, os combates do
lado ocidental estabilizaram-se numa guerra de posições em que se procurava
vencer o inimigo lenta e progressivamente.
A maioria dos
combates ocorreu na Europa, mas, com a entrada de outros países na guerra, a
luta estendeu-se a outros continentes. Em 1917, a Rússia, convulsionada por uma
revolução interna, retirou-se da Guerra. No mesmo ano, os submarinos alemães
começaram a atacar navios mercantes que transportavam suprimentos aos aliados.
A ação provocou a declaração de guerra dos Estados Unidos à Alemanha.
Em 1918, diante
de pesadas derrotas e de revoltas da própria população, esgotada pela guerra, o
imperador da Alemanha renunciou. Foi proclamada a República alemã, e o novo
governo declarou o cessar-fogo. Terminava a Grande Guerra.
Mudanças provocadas pela guerra.
A Primeira
Guerra Mundial. Trouxe profundas mudanças econômicas, sociais, políticas e
culturais.
Durante o
conflito, os governos dos países combatentes passaram a dirigir a economia para
garantir o fornecimento de armas, munições e suprimentos aos soldados, além do
abastecimento à população civil. Cresceram as importações de carvão, ferro,
nitrato do Chile (para fabricação de explosivos), alimentos e tecidos, entre
outros itens. Para custear as despesas de guerra, os países europeus contraíram
enormes dívidas. Os estados Unidos, apesar de neutros até 1917, fizeram grandes
empréstimos aos aliados.
Com a maior
parte dos homens em combate, as mulheres foram chamadas para trabalhar nas
fábricas e em todas as atividades, nas cidades e no campo. O trabalho feminino
garantia o sustento das famílias. Milhares de mulheres se alistaram como
enfermeiras nos hospitais de campanha. Também adolescentes, idosos,
prisioneiros e habitantes das colônias participaram do esforço de guerra.
À média que a
guerra se prolongava, cresciam as dificuldades da população: racionamento,
falta de alimentos, aumento da jornada de trabalho nas fábricas, alta de
preços, além das perdas materiais e humanas. Para manter o moral dos soldados e
dos civis, os governos recorreram à propaganda. Cartazes, revistas, jornais,
livros, cadernos escolares e até embalagens de cigarros e alimentos traziam
imagens e frases encorajadoras, apelando para o patriotismo dos cidadãos.
Porém, tornava-se cada vez mais difícil manter o entusiasmo dos soldados contra
o inimigo. Pouco a pouco, cresceram as deserções e os motins contra oficiais.
O balanço da
guerra foi trágico: entre 9 e 10 milhões de mortos. Por toda parte restaram
cidades destruídas, regiões agrícolas devastadas e enormes dívidas de guerra. O
Tratado de Versalhes, de 1919, que firmou a paz, considerou a Alemanha culpada
pela guerra e lhe impôs pesadas condições: perda de colônias na África e de
parte de seus territórios; desmilitarização e pagamento de uma alta indenização
aos aliados.
A guerra acabou
com os grandes impérios da Alemanha, da Áustria, da Turquia e da Rússia, esta
última abalada também por uma revolução interna. Formaram-se novos países na
Europa e no Oriente Médio. Os países europeus perderam a supremacia mundial
para os estados Unidos, que saíram da guerra como a maior potência capitalista.
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